Ricardo Teixeira sobreviveu no cargo de Presidente da CBF durante a gestão de cinco presidentes da República. Foram eles: José Sarney, Fernando Collor de Melo, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Lula.
Procurou ser colaborativo com todos eles.
Até o período de FHC, os presidentes concentravam-se em outras prioridades políticas, como a estabilização da moeda, por exemplo.
O potencial de comunicação do futebol para com a sociedade era pouco explorado. Até porque a sociedade passou a desconfiar seriamente da composição entre e política e futebol, tendo em vista a lembrança aproveitamento político do Regime Militar com a conquista da Copa de 1970.
No Governo Lula, o futebol voltou a ser ferramenta política. Inclusive como recurso do Estado brasileiro na composição de sua política externa.
Claro que o gosto de Lula pelo futebol e a compreensão de seu potencial de comunicação política com a sociedade foram decisivos.
Inúmeras foram as oportunidades em que Lula se utilizou de metáforas futebolísticas para ilustrar para a sociedade as diversas variáveis da política e da economia no Brasil. Corinthiano doente vestia também a camisa de diferentes clubes em eventos sociais da Presidência da República.
Na política externa, o futebol foi ferramenta das mais utilizadas na construção do “Soft Power” brasileiro.
O desejo de Lula em inserir o Brasil nas principais instâncias representativas e deliberativas mundiais, colaborou ainda mais para que o presidente conquistasse a simpatia dos aliados e deixasse explícita a importância do Brasil no mundo utilizando o nosso futebol como adereço.
Quem não se lembra da “missão” da Seleção Brasileira no Haiti, ocasião que desencadeou o entendimento de que deveria o Brasil liderar a missão da ONU naquele país.
Muitos acusam Lula de ser um líder populista.
Outros acusam de ter sido pouco rigoroso e exageradamente conciliador.
Mas justiça deve ser feita. Lula não foi um presidente interventor. Respeitou todas as instituições nacionais e articulou as relações da presidência com estas instituições através da política, seu maior dom e seu grande trunfo.
E assim foi com Ricardo Teixeira. Lula soube colocar suas demandas e articular seus interesses, atraindo o presidente da CBF para seu campo de aliados. E assim foi com o judiciário, com o Banco Central, com seu ministério e com o Legislativo. Durante meses a cabeça de José Sarney foi pedida, mas Lula deixou que este assunto fosse resolvido pelo senado, sem rifar Sarney.
Mas com Dilma é diferente.
O futebol deixou de ser um assunto limitado em si mesmo.
A Copa do Mundo fez com que o futebol e sua principal competição se tornassem assunto de interesse nacional. Muitas questões infinitamente maiores do que o esporte entraram na pauta do governo.
E um desastre na Copa do Mundo seria fatal para as pretensões eleitorais de Dilma em 2014.
A presidenta sufocou Ricardo Teixeira.
A natureza do poder absolutista de Teixeira sempre se ancorou em três situações fundamentais.
1 – A dependência econômica das pequenas federações estaduais financiadas pela CBF que compunham sua principal base de apoio.
2 – A relação promíscua entre o futebol brasileiro e a grande imprensa em especial a Rede Globo que evitou “rifar” Ricardo Teixeira até o último minuto do segundo tempo. Na “Era Teixeira”, a Globo garantiu o monopólio do futebol brasileiro, podendo intervir inclusive nos horários e organização dos jogos.
3 – A articulação clientelista entre a CBF e o poder político, salvaguardando os diferentes interesses locais, construindo uma verdadeira rede de proteção política estatal.
Principalmente pelos dois últimos pontos, Ricardo Teixeira tornou-se o interventor ideal que acomodaria os gigantescos interesses políticos e econômico.
O agora ex-presidente da CBF colecionou inimigos, e com o advento da Copa do Mundo, tornou sua cadeira objeto de interesse nacional.
Na entrevista que concedeu à Revista Piauí, destilou sua arrogância e ilusão de onipotência. Falou como um imperador.
Dilma jamais tolerou Ricardo Teixeira e o desqualificou como interlocutor para a Copa do Mundo.
Ele foi ignorado nas relações entre o Planalto e a FIFA, sendo que rapidamente os interesses de Dilma e Joseph Blatter se convergiram para que Ricardo Teixeira fosse deposto.
O Brasil tem uma agenda árdua até a Copa do Mundo. A presidenta se impôs sacando todos os privilégios que Teixeira dispunha com o Planalto e fazendo com que ele se tornasse incompatível com o cargo. Corria até mesmo o risco de sofrer outras ofensivas e perder tudo o que conquistara. Para Teixeira tornou-se mais conveniente sair enquanto é tempo.
Para quem achava que Dilma seria uma mera sombra de Lula, sendo guiada em todos os seus passos e comprometeria a vida republicana brasileira fica mais esta lição.
Esta é a Presidenta do Brasil.
Estamos orando por LULA
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