quinta-feira, 12 de julho de 2012

Assuma seus cabelos. Diga NÃO à chapinha!



Que lindas são as moças com seus cabelos naturais.

Sejam eles cacheados, crespos, encaracolados, ondulados, rebeldes ou volumosos.

Aqueles cabelos escandalosos que se exibem gostosamente, satisfeitos de si, sem vergonha ou encanações.

Por estes dias viajei para a Europa. As mulheres de lá que fogem ao padrão europeu e por sorte foram presenteadas pela natureza com cabelos volumosos, ostentam suas jubas de maneira muito elegante.

Seja na Itália, na França ou na Espanha, as capitais da moda estão repletas de mulheres com seus cabelos bem cuidados, cheirosos e arreganhados ao vento, contemplando as diferenças.

Mas por que eu precisaria viajar à Europa para me encantar com as cabeleiras tão particulares às mulheres mestiças ou negras brasileiras? Por que hoje em dia é mais fácil encontrar mulheres que valorizam suas “africanidades” nas ruas de Londres do que na cidade de São Paulo?

Esta maldita chapinha vem nivelando as mulheres e tornando todos os visuais monotonamente parecidos.

Enquanto as mulheres que mantém seus cabelos naturais aparentam estar felizes e bem dispostas, as que aderiram a chapinha me parecem constantemente cansadas e tristes (não sei o porquê).

Deve ser o trabalho em remar contra a maré, desafiar a natureza e pranchar os cabelos todos os dias, perderem seus sábados em escovas progressivas, fugir da chuva ou se entortar no banho.

Aliás, por que a tal escova se chama progressiva? O cabelo progride em direção à que? Ou aonde?

O Brasil tem certas particularidades. Ainda que tenhamos horror à igualdade, temos também um profundo desrespeito com as diferenças.

No país dos camarotes VIPs, sejam eles nas baladas, carnavais ou em hospitais e universidades, uma cabeleira assanhada pode ser considerada um sinal de impertinência malcriada, quando não subversiva.

Segundo o  antropólogo Oracy Nogueira, enquanto na América do Norte existe um preconceito racial ligado à origem das pessoas, aqui no Brasil convivemos com um preconceito de marca.

Ou seja, se nos Estados Unidos uma pessoa será tratada como negra, caso tenha parentesco afro-americano, ainda que não tenha todos os traços de um negro, no Brasil os traços físicos e as características estéticas dos negros são decisivas para a formulação do preconceito.

Oracy falou assim: “No Brasil, a intensidade do preconceito varia em proporção direta aos traços negróides; e tal preconceito não é incompatível com os laços de solidariedade e simpatia. Os traços negróides, especialmente numa pessoa por quem se tem amizade, simpatia ou deferência causam pesar, do mesmo modo por que o causaria um “defeito” físico. Desde cedo se incute, no espírito da criança branca, a noção de que os característicos negróides enfeiam e tornam seu portador indesejável para o casamento...” *

E olha que hoje em dia, não são somente as afro-brasileiras que utilizam o expediente da chapinha.

As meninas brancas torturam seus lindos cachos no ferro quente ou mesmo no formol, mumificando seus lindos cabelos.

Espero que as cabeleireiras me perdoem se estou interferindo em sua reserva de mercado ou mesmo falando alguma bobagem. A verdade é que não entendo nada de cabelo.

Mas é curioso como as mulheres de cabelo “armado” ofendem as brasileiras. Não foram poucas as vezes que eu vi algumas amigas verdadeiramente irritadas com uma Vanessa da Mata da vida.

Tempos atrás peguei um ônibus em Salvador. Entrou uma moça tão elegante com aquele cabelo festivo e um vestido simples com flores coloridas estampadas. Ela passou ao meu lado e senti o perfume da sua pele. Quase perdi o fôlego.

Bunda mole que sou, sequer me apresentei. Talvez tenha ficado sem reação.

Porém, daquele dia em diante prometi que anunciaria as mulheres que elas não precisam ser tão cruéis consigo mesmas.

Sejam simples e felizes.

Não que os cabelos lisos sejam feios. Muito pelo contrário. Mas estes já são fartamente valorizados pela estética dominante.

Minha tarefa aqui é brindar o que há de mais lindo na mulher brasileira.

Viva a diversidade!



* Oracy Nogueira – Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem. Sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil





6 comentários:

  1. eu me lembro de você elogiando a minha juba!!!

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  2. Você sempre elogiou a minha juba cheia de cachinhos!!!

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  3. Muito legal Rafael, sempre usei os mesmos argumentos que os seus para não me curvar ao uso da chapa. Lógico que mantenho meus cabelos enrolados, aqui é corinthians!

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    1. huahuahuha isso mesmo!!! aqui é corinthians foi ótimooo o/

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  4. Uma vez uma amiga me mostrou um quadro que ela fez com a foto de quatro das mais conhecidas jovens atrizes do cinema estadunidense atual. Era impossível distinguir qual era qual sem a legenda embaixo, o cabelo era o mesmo, o nariz era o mesmo, e as diferenças estavam nos detalhes menos perceptíveis. Defender a diversidade de moda e estilo pode parecer uma coisa menor ou até uma bobagem, mas não é não. A ditadura do fashion é uma das mais fortes que existem - e das mais facistas também, pelas tentativas de humilhação dos que não se enquadram.

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  5. Meu cabelo é liso natural, não pensem que é só as meninas que possuem cabelos cacheados que adoram uma chapinha não. Eu tenho meu cabelo super liso, sem nenhuma pontinha ondulada, LISO MESMO, porém me apaixonei pela chapinha pois ela tirava o pouco volume do meu cabelo (culpa de uma cabeleireira que eu fui ao salão com o cabelo enorme batendo no bubum e pedi pra fazer um corte sem tirar o comprimento, quando me levantei estava batendo no ombro, resultado: cabelo ridículo e super cheio) comecei a passar a chapinha e isso virou um vicio, não vivia sem ela, quando faltava luz em casa desistia até de sair pois não podia passar a maldita chapinha, então durante um tempo fui percebendo que o meu cabelo estava fino, não crescia mais, quebrado, ressecado.. E agora eu estou com o objetivo de deixar o meu cabelo crescer novamente como antes, faz quase um mês que minha chapinha esta no fundo da gaveta, e se quer saber, estou fazendo restauração, e o meu cabelo está macio, super hidratado, sem volume algum, brilhoso e já estou até vendo uma diferença no crescimento. Eu tinha até esquecido como era o meu cabelo natural, hoje tenho consciência que a chapinha não fazia diferença alguma no meu cabelo. O que realmente faltava era um cuidado ideal para deixa-lo bonito. Hoje eu digo e repito EU AMO O MEU CABELO NATUAL.

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