sexta-feira, 3 de junho de 2011

O que está em jogo no caso Palocci



Palocci escolheu o Jornal Nacional para oferecer de forma exclusiva as supostas explicações sobre as denúncias de enriquecimento instantâneo.
Percebe-se que foi uma entrevista longa, talvez negociada. O ministro escolheu uma imensa janela como cenário e quando a entrevista se iniciou o dia estava bem claro, mas quando ela terminou já estava bem escuro.
Este detalhe menor serve para nos ilustrar que não é qualquer coisa que está em jogo neste episódio. E acredito que as duas partes – imprensa (bancos e pseudo-investidores) e governo – já entenderam as estratégias opostas e tendem a buscar um ajuste.
Mas o que realmente está em jogo no caso Palocci?
1-      Lula terminou seu mandato com mais de 80% de aprovação. Seu segundo governo foi marcado por uma retomada da participação do Estado na economia. Isto num cenário de crise global que deixou como legado imediato a absoluta necessidade da regulação do Estado sobre a economia, já que o chamado livre mercado levou o planeta à maior crise dos últimos 80 anos. Tais regulações não são bem-vindas pela elite econômica monetarista e o governo desenvolvimentista de Lula indicava uma mudança de trajetória e transformações no processo político decisório com a ascensão de novos atores dentro deste processo político.
2-      A popularidade de Lula somada à eleição de Dilma, num processo eleitoral que deixou evidente a derrota do campo político liberal, tanto pelo desempenho pífio de Serra como da avaliação que a população fez do legado de FHC, deixou os “donos do Brasil” de cabelo em pé. A eleição foi decidida com a candidatura liberal tucana tendo que omitir de seu programa as égides do governo FHC, como os programas de privatizações e a desregulação do Estado. Tudo isso e mais a crise internacional do pensamento liberal, geraram as condições políticas para que a presidenta Dilma promova transformações importantes na organização política econômica brasileira. A intervenção do governo na companhia Vale do Rio Doce foi uma demonstração disso. A irritação da imprensa com o fato corrobora ainda mais com esta análise.
3-      Como a oposição está esfacelada e sem menor condição se organizar politicamente, a imprensa mais uma vez se comportou como um partido político e avançou contra o governo na tentativa de dificultar as tais condições políticas para as transformações esperadas historicamente pelos brasileiros.
4-      Mas por que Palocci? Nenhum quadro do atual governo tinha uma relação tão forte e carnal com o estabelishment monetarista midiático do que Antônio Palocci. O famigerado ministro somente ocupa este cargo porque foi o grande fiador político da candidatura Dilma junto ao chamado “mercado”. A relação de Palocci com seus omitidos clientes sempre foi promíscua e colocou em risco o governo Lula e agora põe também em risco o governo Dilma. A área, sob responsabilidade “técnica” do Palocci é o esgoto de qualquer campanha eleitoral. Digamos que a idéia é justamente atacar este esgoto, descartando especialmente o tal “fiador” (inevitável destino dos traidores) para demonstrar ao governo o que estaria por vir. Basicamente, a imprensa tenta estabelecer limites para a ação política do governo e torná-las o mais negociável possível.
5-       A entrevista de Palocci foi sofrível. Aliás, ele só piorou sua situação. Ao dizer que seus rendimentos se concentram em 2010 porque sua empresa “mandou a fatura” de seus serviços antes de ele voltar ao governo conferiu ao caso uma gravidade que até então não estava explícita. Dizer que não pode revelar quem são seus clientes porque o ambiente político contaminaria os negócios destas empresas nos faz entender que o melhor para todos: governo, ministro e clientes é que ele saia imediatamente do governo.
Um cargo político como de Ministro Chefe da Casa Civil não é patrimônio de ninguém. Ele só faz sentido quando um indivíduo coloca a disposição do país sua experiência e sua capacidade de servir.
Sendo assim, não há mais nada que justifique a permanência de Palocci no cargo que ocupa. Aliás, seu retrospecto de traidor da pátria já deveria ser suficiente para que ele sequer chegasse perto da Praça dos Três Poderes.
Restando alguma dignidade ao Palocci, ele deve deixar imediatamente seu cargo e poupar a presidenta Dilma, seus clientes e o Brasil de maiores constrangimentos
A presidenta precisará de muita sabedoria e virtude política para tocar seu governo daqui pra frente. Agarrar-se aos brasileiros que a elegeram e enfrentar com garra os inimigos do Brasil

3 comentários:

  1. Assistí a medíocre entrevista. A impressão que tive é que ele não está nem ai para a crise que conseguiu instaurar no governo e nas bases do partido.

    Não consigo entender o que o Palocci ainda está fazendo no Planalto.

    O prazo de validade venceu.

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  2. "A presidenta precisará de muita sabedoria e virtude política para tocar seu governo daqui pra frente. Agarrar-se aos brasileiros que a elegeram e enfrentar com garra os inimigos do Brasil"


    ...

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  3. Rui e Renata

    Obrigado pela visita

    Forte Abraços

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