terça-feira, 19 de julho de 2011

Eleições Argentinas - Quem é quem


No próximo dia 23 de outubro, haverá na Argentina eleições para o sexagésimo primeiro presidente ou presidenta da República.

A partir do dia 10 de dezembro se iniciará um novo governo.

Caso Cristina Kirchner não seja reeleita, a Argentina terá o seu décimo presidente após a redemocratização do país em 1983, ano em que terminou a ditadura militar no país vizinho.

Pesquisas apontam que a atual presidenta tem ampla vantagem sobre o segundo colocado Ricardo Alfonsín, filho do ex-presidente Raul Alfonsín da União Cívica Radical.

Cristina Kirchner recebeu o posto de presidenta de seu marido Nestor Kirchner no ano de 2007. Nestor permaneceu ao lado da mandatária, tornando-se o principal articulador político da base governista, até sua morte em outubro do ano passado.

Cristina teve de superar a ausência do companheiro e sua figura carismática ligada à recuperação do chamado “peronismo autêntico” ou “peronismo histórico”.

O peronismo tornou-se a ideologia política mais popular na Argentina nos anos 40. Juan Domingo Perón soube capturar de maneira eficaz a emergência do operário industrial proletário como ator político fundamental e em um período de grande mobilidade social chegou ao poder nos braços dos trabalhadores. A partir do Ministério do Trabalho e depois na Presidência da República, Perón estruturou o movimento sindical e o partido peronista, tornando estas organizações elementos de pressão social para as transformações políticas e fortalecimento de sua liderança.

Em torno do peronismo, organizaram-se correntes políticas de direita e de esquerda.

O governo Kirchner foi o primeiro mandato peronista que remete à característica desenvolvimentista do primeiro governo de Perón, com aproximação da sociedade civil organizada.

O modelo K, como são conhecidos na Argentina os governos de Nestor e Cristina Kirchner ficou marcado pelo aumento da participação do Estado na economia, recuperação da atividade industrial e crescimento do superávit da balança comercial a partir da exportação agrícola. A reversão das políticas neoliberais dos últimos anos, em especial a intervenção no Banco Central, um crime para os liberais ortodoxos, mais a aliança política com os sindicatos e movimentos sociais, provocaram a ira dos setores mais conservadores, em especial da grande mídia.

Embora os governos de Nestor e Cristina sejam acusados de autoritários, nos últimos anos houve uma enxurrada de ataques dilacerantes contra o kirchnerismo. Por sua vez, o governo aprovou a nova “Lei de Mídia” que afetou os interesses do grupo Clarin, dono de um império na área de comunicação.

Durante os últimos anos, diversas figuras da política tentaram se qualificar como grande postulante em condições de derrotar o kirchnerismo na próxima eleição.
Maurício Macri, ex-presidente do Boca Juniors e atual chefe da cidade autônoma de Buenos Aires tentou se qualificar como o candidato da direita, mas diante dos bons resultados de Cristina nas pesquisas decidiu se reeleger à prefeitura local.

De Navarez, considerado um peronista moderado, havia vencido Nestor Kirchner nas eleições parlamentares encabeçando sua lista de deputados. Pensava em se arriscar nessas eleições, porém compôs um acordo com Ricardo Alfonsín que o apoiará na disputa pelo governo da província de Buenos Aires.

Julio Cobos, atual vice-presidente da república, aproveitou-se de um embate do governo com o setor agrícola - que se manifestava contrário à retenção de exportações, medida que buscava frear as ameaças inflacionárias e o desabastecimento interno – e apoiou a peleja dos ruralistas. Atuou como opositor durante a maior parte de seu mandato, mas não conseguiu apoio de seu partido que preferiu lançar a candidatura de Ricardo Alfonsín.

Na Argentina, é possível que mais de um candidato seja postulante pelo mesmo partido, desde que se organizem em frentes partidárias autônomas.

Pelo Partido Justicialista (peronista), além de Cristina Kirchner (Frente para Vitória) sairão candidatos o ex-presidente no governo de emergência (2002-2003) Eduardo Duhalde (União Popular) e o governador da província de San Luis Alberto Rodriguez Saá (Peronismo Federal).

Duhalde tenta se qualificar como um peronista moderado, capaz de liderar uma aliança política que garanta a governabilidade, articulando com os peronistas e controlando o poder dos sindicatos, fonte de preocupação da classe média. Seu slogan é “Duhalde Pode”.

Ricardo Alfonsín é o candidato da UCR, o partido mais antigo da Argentina fortemente fincado nas classes médias urbanas. Aposta na sua imagem conciliadora para chegar à Casa Rosada. Seu programa de governo prevê políticas habitacionais eficazes com facilitação do crédito imobiliário para os jovens. Seu partido ainda se recupera da perda de prestígio depois do trágico governo de Fernando De La Rúa que ganhou as eleições com o apoio de Carlos Menem, mas teve de renunciar à presidência e fugir do país após o desmonte da economia Argentina em 2001.

Concorre também Elisa Carrió (Coalizão Cívica), segunda colocada em 2007.

As últimas pesquisas apontam uma vantagem folgada de Cristina Kirchner (49,8 %), seguida por Ricardo Alfonsín (10,5 %), Eduardo Duhalde (9,2 %), Rodrigues Saá (5,2 %) e Elisa Carrió (4,8 %).*

Na Argentina o presidente pode eleito já em primeiro turno se alcançar 45% dos votos válidos, ou 40% com dez pontos de vantagem para o segundo colocado. Por isso, a falta de unidade na oposição pode favorecer a candidatura de Cristina e decidir as eleições.


* Instituto CEOP (Junho/2011)

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