segunda-feira, 4 de julho de 2011

Luis Nassif: Quando a política desmascara a economia

Amigos, mais uma vez me vejo obrigado a repassar a coluna do Nassif. Com simplicidade, ele demonstra todos os ciclos da política neoliberal e suas inevitáveis consequencias. Hoje a Europa vive a beira do abismo, mas podemos lembrar também da crise que o Brasil e os países da América do Sul viveram dez anos atrás.

Boa leitura.

Quando a política desmascara a economiaColuna Econômica - 04/07/2011


Os fortes ajustes fiscais dos países europeus – para enfrentar a crise – têm deflagrado ondas de protestos que varrem o mundo. Trata-se de um desdobramento conhecido dos ciclos financeiros mundiais, quando a onda chega ao fim.
O início do ciclo sucede o esgotamento do modelo anterior, de rigidez cambial e monetária. Há novas tecnologias sendo implementadas, grandes reestruturações econômicas exigindo realocação de poupança e provocando o aparecimento de novos instrumentos financeiros.
O poder econômico é transferido, então, para os gestores de recursos, os financistas, que se apoderam do controle da política econômica nacional – atuando em convergência com bancos de investimento e gestores internacionais.
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Para conseguir se impor sobre outros atores econômicos e políticos, o financismo exige uma teoria econômica legitimadora.
Não há mistério nos fundamentos centrais de uma política econômica. Há que se ter responsabilidade fiscal e investir em medidas que, de um lado, fortaleçam o mercado interno; de outro, criem condições para as empresas nacionais competirem internacionalmente. Aí entram política cambiais competitivas (que tornem os produtos brasileiros mais baratos em outras moedas), sistema tributário racional, infraestrutura adequada, investimento em educação, ciência e tecnologia.
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A flexibilidade do capital é relevante, principalmente em processos de reestruturação econômica. Mas o capital sempre busca a melhor combinação de rentabilidade e segurança.
Entra-se então no busílis da questão. Para que cumpra um papel transformador é necessário que as medidas de política econômica o direcionem para atividades produtivas, estruturantes. Se se abre espaço para meras jogadas especulativas – com taxas de juros elevadas ou ampla flexibilidade para entrar e sair de países – o capital perde a função. Em vez de ser um instrumento de desenvolvimento, passa a ser a peça central, em torno da qual gira toda a economia. E aí não se consegue escapar da espiral especulativa.
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Ao longo das últimas décadas, o mundo aprendeu, em tempo real, como se desenvolve a retórica do financismo desvairado. Qualquer gastos – que não seja com juros – é considerado ímpio ou antinacional.
Cria-se a falsa lógica da lição de casa. Se cortar aposentadorias, salários, gastos com saúde e educação, abre-se espaço para benesses ao capital, que virá estimular a economia. Feito o sacrifício, todos colherão os frutos, na forma de mais crescimento e melhores salários.
Foi a retórica da “lição de casa”, brandida por Pedro Malan e Antônio Palocci, e por praticamente todos Ministros da Fazenda e presidentes de Banco Central dos maiores países.
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O ajuste fiscal permite o aumento do endividamento público e privado. Grandes fortunas são construídas nesse período.
O movimento especulativo vai crescendo até que, em certo momento, a bolha explode. Em circunstâncias normais, os credores e investidores seriam chamados a pagar a conta, na forma de desconto nas dívidas.
Só que nessa hora entram os governos nacionais sugerindo mais sacrifícios da população, sem que ela tivesse recebido o prometido no ciclo de bonança

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