sexta-feira, 1 de julho de 2011

Pão de Açucar x Carrefour e as transformações no processo decisório. O jogo está sendo jogado!



O assunto mais comentado da semana sobre política econômica é a fusão entre as duas maiores redes de hipermercados Pão de Açúcar e Carrefour.

A aquisição pelo grupo brasileiro das operações nacionais do Carrefour seria por si só discutível, dada a possível concentração do mercado varejista de alimentos e a conseqüente perda de competitividade e concorrência no setor.

No entanto, esta operação se torna muito mais discutível quando o BNDES apóia e participa do negócio com um aporte bilionário, colocando em dúvida se tal fusão atende ao interesse nacional.

O investimento público na formação de gigantes nacionais e de multinacionais brasileiras é um tapa na cara do pequeno e médio empreendedor que sofre com carga tributária elevada e principalmente com juros estratosféricos que boicotam a produção, além da supervalorização do Real que impede a competitividade dos produtos brasileiros no exterior.

Isso sem falar no “apagão” na infra-estrutura nacional, com malha ferroviária de século XIX e estradas que variam entre deterioradas ou com pedágios absurdos, como no caso do estado de São Paulo, encarecendo ainda mais nossa produção.

Mas chega a ser cínico o protesto da grande mídia que teceu duras críticas à possível operação do BNDES.



Alguns dos comentaristas que condenam o investimento do BNDES em empresas multinacionais brasileiras são os mesmos que defenderam com unhas e dentes o programa de privatização do governo FHC.

Para quem não sabe, além de empresas estrangeiras terem adquirido as estatais construídas com sangue e suor dos brasileiros, as operações foram todas financiadas pelo BNDES que emprestou dinheiro para empresas gringas e especuladores como Daniel Dantas comprarem a preço de banana nossas estatais estratégicas.

A Vale, por exemplo, foi vendida por R$ 3 bi, sendo que hoje seu valor de mercado é pelo menos cem vezes maior. De Pedro Álvares Cabral até os dias de hoje, ninguém roubou mais o Brasil do que o governo tucano de FHC. Não é à toa que esta camarilha foi praticamente expurgada da vida nacional e tem seu lugar reservado no esgoto da historia.

Pois bem, mas o que está realmente sendo jogado neste momento? Vejo muitos comentaristas falando da possível operação sob o ponto de vista econômico, mas pouca gente ousou interpretar politicamente o fato. Nosso modesto blog mais uma vez vai se arriscar.



O BNDES tem investido de alguns anos para cá em grandes players brasileiros para competirem com relativa vantagem no mercado internacional. A estratégia é consolidar as posições onde somos competitivos para num segundo estágio abrirmos caminho para outras empresas brasileiras.
O governo espera dois resultados. O primeiro é econômico e o segundo é político. Vamos aqui falar um pouco do político.

Neste momento, o governo procura estabelecer alianças políticas com uma “nova” elite nacional apoiada na produção e no desenvolvimento. Busca adesão desta classe ao seu projeto nacional de médio e longo prazo que é desenvolver o Brasil e se livrar das amarras do setor especulativo financeiro, mais conhecido como Mercado.

Sabe-se que nenhum projeto político consegue êxito se não receber a fiança de grupos de pressão poderosos e representativos.

Desde a era FHC quem manda no Brasil e especialmente na imprensa são os bancos e grandes grupos financeiros internacionais, alguns deles proprietários das estatais privatizadas.

Estes grupos são ainda hoje predominantes nos processos decisórios e os maiores financiadores do processo eleitoral.

Não se rompe esta amarra do dia pra noite. O governo Lula percebeu que para a estratégia de longo prazo seria necessário apoiar outros setores capazes de contra-balancear as disputas políticas ideológicas na burguesia nacional.

Na eleição de Dilma, percebeu-se pela primeira vez em décadas o aumento da participação desta nova elite. Empreiteiras, indústrias, construção civil, agro-negócio e multinacionais brasileiras.

O governo considera mais fácil lidar com um mercado concentrado, menos vulnerável a crises especulativas e tempestades econômicas. É uma escolha.

Só o tempo vai dizer se vale à pena esta aliança com a burguesia nacional. O jogo está sendo jogado e as apostas foram feitas. Fica cada vez mais clara a estratégia do governo.

No futuro, os estudantes de economia e política estudarão estes acontecimentos e terão respostas prontas para as perguntas que hoje estamos fazendo.



  




Um comentário:

  1. Tenho certeza que o Nelson Jobim, não gostou desse texto.

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