segunda-feira, 11 de julho de 2011

Preconceito social na internet


O Orkut é uma espécie de Praia Grande dos sites de relacionamento. Todo mundo já se divertiu ali, mas agora, alguns sentem vergonha de dizer.
Estes dias até brinquei com uma amiga. Ao vê-la tirando uma foto bonita eu disse:
- Olha só! Foto de Orkut, heim?
A resposta foi meio seca:
- Facebook, por favor.
Vez por outra recebo alguns e-mails com o título: “as pérolas do Orkut”. São fotografias com gente se divertindo de maneira supostamente ridícula. Coisa de pobre, diriam os antenados permanentemente às novas tendências.
O estranhamento com estas cenas é compreensível.
A mobilidade social recente ofereceu a pessoas que tempos atrás mal podiam comer carne e se divertir a compartilhar valores próprios das classes médias brasileiras, difundidos pelos meios de comunicação e que anteriormente estavam meramente restritos ao imaginário da população de baixa renda.
Uma foto com garrafa de uísque ao lado de uma piscina de plástico causa perplexidade na classe média que se orgulha de vez por outra, ser convidada a freqüentar algum salão co-habitado pela “elite branca”.
Alguns destes e-mails trazem comentários do tipo “maldita Casas Bahia que vende câmera digital em 36 vezes sem juros”.
Como se os bens de consumo da classe média brasileira – forjada nos governos de Vargas, Juscelino e Militares – não fossem oriundos das “suaves” prestações de crédito pessoal oferecido pelos bancos de varejo.
Pode até parecer estranho alguém que recentemente adentrou ao mercado de consumo reproduzir a sua maneira os valores e o modo de vida da classe média que historicamente habitou o imaginário popular como um mero sonho distante.
Mas da mesma forma parece ridículo e fraudulento quando a indústria cultural – que tem a classe média como principal consumidora - incorpora, apropria-se e re-significa a produção cultural da classe pobre brasileira.
Os ritmos e danças criados nas vilas e favelas brasileiras tornam-se um subproduto industrializado e comercializado para “gente branca” consumir.
Os resultados são deformações como o baile funk para patricinhas popozudas nas baladas caras de São Paulo, o pagode choramingado, os camarotes de escola de samba e as micaretas que transformaram o carnaval do povo em uma espécie de apartheid itinerante.
Mas o pior de todos é o conceito de forró universitário e sertanejo universitário.
Ou seja, a indústria cultural se apropria da cultura popular, depois cria uma etiqueta para diferenciar a estética do forró dos universitários do forró de empregada doméstica, o sertanejo universitário do cowboy de picape da música do caipira ingênuo.
Com toda sinceridade, um boyzinho cantando que “o Morro do Dendê é ruim de invadir” me parece muito mais ridículo do que ver alguém se divertindo no Piscinão de Ramos ou na Praia Grande.  

Como eu disse anteriormente, a classe média brasileira foi criada pelo Estado na era Vargas. Ou seja, há apenas oitenta anos.
Isso quer dizer que quase ninguém com minha idade têm um avô que nasceu rico. Os que tiveram a felicidade de construir um patrimônio, têm muito viva na mente a memória de pobreza.
Os universitários do forró e do sertanejo recentemente puderam contrariar as estatísticas e alcançar o grau superior. Agora, eles se sentem em condições de “apedrejar” a Geyse, não porque ela seja escandalosa, mas por ela ser considerada ridícula. E o “senso comum” decidiu que seu corpo - supostamente feio -  não lhe dava direito de se sentir atraente e usar um vestido curto.
Acontece que a classe média se apavora com a pobreza. Sente medo dela. Tem a pobreza muito viva na memória e rapidamente incorpora como seus os interesses e ideologia da elite, com medo de cair na escala social ao se associar com quem deveria estar “em baixo”.
Quando aquele que estava “em baixo” emerge e pode também usufruir os bens de consumo, comprar celular, televisão, viajar de avião, automóvel e a famigerada câmera digital, os que estavam “em cima”, automaticamente, num clique, sentem-se mais pobres.
As fotos do Orkut apavoram porque através delas alguns enxergam tudo o que mais temem.  A igualdade.
No Brasil poucos se sentem a vontade com a igualdade. Este é o país dos camarotes VIP. Seja na balada ou nos hospitais e nas universidades. Não seria diferente nas redes sociais.

****

Leia também: Tropa da Elite acusa a sociedade brasileira de invejar os mais ricos

25 comentários:

  1. Bom que já começou com a mesma frase usada no BlogProgSP, Rafael. Merecia um post mesmo.

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  2. Muito bom, Rafael.
    O preconceito cega, não deixando que vejam as benesses da mobilidade social.

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  3. Rafael Castigo seu bosta defensor dos frascos e comprimidos. Soh fala bobagem e se acha o tal. Vai se f.. Vc tem inveja de quem é rico pq vc eh fodido karaio

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  4. A classe "mérdia" abomina os valores e o senso estético do povão. Tentam eesistir à democracia, pois os meios de comunicação sempre divulgaram apenas o ponto de vista deles. Felizmente, isso mudou. A blogosfera deu cara e voz ao verdadeiro povo brasileiro. Aleluia.
    @FFrajola

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  5. A um tempo que eu já havia notado essa segregação entre Orkut e FaceBook, mas seus comentários foram perfeitos para descrever a situação.
    Parabéns!

    Obs: Cara brabu esse tal de anônimo hein!!! kkkk
    Mas tenho que admitir que gostei do Rafael "Castigo" esse apelido em tempos de Rotaract teria feito sucesso, como não pensamos nisso antes. kkkkk

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  6. Perfeito Rafael:
    há algum tempo andei tuitando uma provocação, a partir de um comentário que ouvi, no primeiro encontro dos blogprog:"Orkut é Casas Bahia e Facebbok é Daslu" Fiquei matutando essa frase dita em tom de piada e você consegui traduzir minha percepção neste texto.
    Isto nos leva a refletir sobre quem é que anda fazendo panfletagem virtual contra o PNBL, o possível que bem escreveu o Imprença em seu blog.
    Classe média recém saída do proletariado prefere o Facebook, Orkut é coisa de pobre, é brega, é motivo de piada.
    Lamentável que esses corneteiros fiquem fazendo mimimi nas redes sociais ( menos no Orkut, é claro)defendo seus mesquinhos interêsses de emergentes.

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  7. Obrigado a todos que comentaram aqui no blog ou via e-mail, twitter e facebook
    Abraços
    Rafael Castilho

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  8. MUITO interessante seu texto! A elite "no alto da sua torre" não sabe ou finge não saber que podem cair lá de "cima" a qualquer momento. E quem sabe o dia de amanhã não é mesmo?

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  9. Muito pertinente o seu texto...
    Gostei muito! É de uma expressividade verdadeira.

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  10. Muito pertinente o seu texto.
    Gostei!

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  11. Sempre pensei sobre isso e nunca tinha lido nada falando a respeito. Vejo muito as pessoas usando o termo "orkutização" no facebook, não entendo porque elas pensam assim e demonstram um ar de superioridade, tornando os outros menores. Fico tão indignada que chega a me entalar, mas não tenho meios para mostrar o quanto discordo. O mundo seria melhor senão existisse essa competição, classes sociais, e prepotência.
    Parabéns pelo seu texto. Gostei muito. Você colocou em palavras o que eu sinto também!

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  12. Galerinha... Muito obrigado de coração pelas palavras. Fico feliz que a grande maioria tenha entendido o "espírito" do texto. Voltem sempre!

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  13. Valeu, Praia Grande, estou chegando!

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  14. Gostei muito! Muito pertinente! Um abraço.

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  15. Fantástico! Vc traduziu em palavras tudo o que eu penso a respeito! Vou compartilhar. Abraços!!!

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  16. Obrigada por ter visitado o meu! rsrs...
    Adorei seus textos e sempre irei conferir as novidades!
    Realmente, o Chile é um lindo país, e apesar do clima, da peculiar geografia e algumas variantes locais, tem uma história muito ligada a nossa. Fascinante!
    Un abrazo desde Chile!

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  17. Texto maravilhoso, já divulguei no Orkut, Facebook , Twitter e no meu blog. Farofa pouca é bobagem.

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  18. Oi Rafael! Sou a Gabi que falou com você pelos comentários do Classe Média Sofre. Como já disse por lá, faço das suas palavras as minhas! Seu post foi esclarecedor para o meu incômodo diante o preconceito nas redes sociais.

    até
    um abraço

    http://tornesimples.blogspot.com/

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  19. muito bom, curti o texto, o blog, vou acompanhar :)

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  20. Excelente texto! - mais comentários da minha parte seria redundância. =)

    E o "Sr. Anônimo" aí em cima que acusou o autor de "bosta defensor dos frascos e comprimidos": é muito fácil mascarar seu elitismo e covardia sob a égide do anonimato.

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  21. Claro Gilberto Train, afinal de contas coisa de corajoso mesmo é aparecer na Internet com uma foto do Capitão Kirk ao invés de colocar a própria foto.

    Parabéns amiguinho.

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    1. Se a foto do meu avatar é o único argumento que você tem contra mim... puxa, sinto muita pena de você.

      Não muda o fato de que você continua sendo um covarde, que não tem coragem nem de mostrar o próprio nome para defender suas próprias ideias. Mas tudo bem, suponho que o único momento de felicidade que você deve ter é quando vem xingar alguém na internet...

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    2. Putz, se o seu único argumento contra mim é uma simples foto de avatar (que eu já troquei inúmeras vezes, mas por algum motivo a imagem nunca muda) eu tenho pena de você.

      Isso não muda o fato de que você continua sendo um covarde, sem coragem para expor nem ao menos seu nome, para defender suas ideias. Mas tudo bem, eu entendo que o único momento feliz do seu dia é quando você entra na internet para xingar alguém.

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  22. É sobre temas como esse relevantes para o intelecto que as pessoas tem que ler.

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