terça-feira, 26 de julho de 2011

Amy Winehouse x Anders Behring Breivik



Durante o último fim de semana o mundo dividiu sua atenção entre dois acontecimentos tristes.
A cantora Amy Winehouse foi encontrada morta em sua casa sem uma causa confirmada, mas com uma explicação imaginada e aguardada por todos: os excessos da cantora.
Ainda que Amy tenha sido um prato cheio para a imprensa sensacionalista, seus inúmeros fãs sentiram muito a perda da artista. Na porta de sua casa, além de flores, foram deixadas garrafas de bebidas e cigarros.
Mas por que as pessoas, mesmo sabendo da dependência de Amy se solidarizaram tanto com ela e admiraram enormemente sua figura que transbordava o seu gigantesco talento?
Por que tantas pessoas se identificavam com o universo de excessos de Amy Winehouse?
Ora, a sociedade está farta do conservadorismo. Vivemos em um tempo pragmático, em que todas as ações são calculadas. Todas as atividades humanas devem ter uma equivalência prática, com resultados previsíveis e com retorno econômico garantido.
Somos persuadidos a cuidar dos nossos corpos não como forma de alimentar o espírito e a sanidade, mas para transformá-lo em um objeto de consumo, adequado para os padrões estéticos aceitos pela indústria cultural.
As campanhas antidrogas, antitabaco, anti-gordura, anti-álcool, visam a manutenção da integridade física do indivíduo. Mas sozinhas e isoladas elas não podem ser eficazes porque o homem não pode ser limitado a uma mera ação de preservação individual, sendo roubada dele a possibilidade de contribuir para as transformações de seu tempo. Vivemos sob um único modelo imposto: a sociedade de consumo. O indivíduo está alienado da sua própria existência.
O outro acontecimento triste, e muito mais grave, foi o massacre ocorrido na Noruega pelo genocida Anders Behring Breivik.
O pensamento político conservador, nos últimos cem anos, se organizou no combate ao comunismo. As correntes de pensamento que visavam a manutenção do status quo, construíram teorias políticas e econômicas para dar conta do avanço marxista.
Com o desmonte dos Estados socialistas, o comunismo deixou de ser uma ameaça. Os esforços foram então concentrados na implantação global do neoliberalismo, criando uma comunidade internacional propensa para o ambiente de negócios.
O neoliberalismo não se sustentou por três décadas, e os Estados que optaram por desmontar sua capacidade produtiva em nome do capital especulativo entraram em grave crise e ao longo dos anos desmontaram os seus instrumentos de proteção social.
Como as elites criaram teorias políticas e econômicas para legitimar ao longo dos anos seu modelo de Estado, com o naufrágio de suas economias o pensamento político conservador entrou em crise.
As teorias conservadoras não podem mais se limitar ao anti-marxismo. Também não podem proclamar o livre mercado e o liberalismo econômico porque o mundo está à beira de um colapso e depressão econômica.

Portanto, esta crise no pensamento conservador liberou todo tipo de sentimento preconceituoso, racista e xenofóbico, alimentado ao longo dos anos através do MEDO do comunismo. Agora, este sentimento de MEDO está desorganizado e os monstros estão libertos buscando na internet um guia prático de “holocausto: faça você mesmo”.
A decadência econômica da Europa ainda não desencadeou no crescimento das forças progressistas porque estas levam mais tempo para se organizarem, pois dependem de consenso e coerência. Já o pensamento fascista ou neonazista não depende de coerência alguma. Ao invés de culpar os grandes bancos pelo desmonte do Estado de bem-estar social europeu, alguns vermes subprodutos do ódio cometem assassinatos buscando reconhecimento e exibicionismo. Querem romper a invisibilidade a que o próprio sistema os condenou.
Quando todos já especulavam que o ataque seria realizado por fundamentalistas islâmicos ou de extrema esquerda veio um forte e ardido tapa na cara.
O ataque foi realizado por um estúpido direitista ressentido.
E o inimigo do genocida era justamente o inimigo propagandeado pelos bushes: o “eixo do mal” e os imigrantes.
O Brasil foi citado por diversas vezes no “documento” de Anders.
O motivo seria a nossa mestiçagem que teria enfraquecido a nossa raça.
Lembrei-me na hora do grande Darcy Ribeiro falando da raça brasileira em seu discurso sobre a nossa mestiçagem.
Nossa cor incomoda e agride aos “limpinhos”. Seríamos frutos de uma “pulada de cerca” original. Ou seja, somos subversivos pela própria natureza. Confesso que isso me agrada muito.
Este episódio deveria ser ao menos uma lição para a nossa elite branca euro centrista.
A irreverência de Amy Winehouse e a paixão que ela despertou.
 O genocídio na Noruega.
Estes são dois lados de um mesmo temor: Os conservadores!
Seja no neonazismo europeu, no tea party estadunidense ou na “gente diferenciada” brasileira, a tentativa de a extrema direita chegar ao poder preocupa muito mais a humanidade do que o aquecimento global.

5 comentários:

  1. Me arrepiei com as frases finais do post. Muito bom!

    um abraço

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  2. Obrigado Gabriela... volte sempre!
    Outro abraço

    rafael castilho

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  3. O Poeta já dizia: ´´A BURGUESIA FEDE ``.

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  4. Excelente análise, Rafael !
    Abs.

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  5. Obrigado Nilva..

    Rafael

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